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Será que não caiu a ficha???

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Há 15 anos atrás, minha irmã, então com 40 anos,  foi diagnosticada com cancer de mama. Foi tudo muito terrivel e amedrontador, especialmente porque eu fazia meu mestrado no departamento de Oncologia da FM-USP.  Ainda que eu quisesse me concentrar em meu trabalho, eu estava sempre relacionando o que eu estudava com o que acontecia na vida da minha irmã.

O tratamento passou, ela está bem, a vida mais ou menos voltou ao normal, mas uma pergunta sempre ficou na minha cabeça: "será que nosso problema é genético?"

Foram 15 anos tentando fazer um teste genético para tirar esta dúvida. Primeiro, tentei convencer minha irmã a fazer o teste. Depois comecei tentar converncer meus médicos no Brasil a me deixarem fazer o teste e finalmente tentei convencer meus medicos no Canadá para me deixarem fazer o aconselhamento genético.

Este ano, finalmente eu consegui o que queria e hoje enviei meu questionario para o centro de aconselhamento genético de London, On.  Mas o caminho não foi facil e precisei de um diagnóstico de cancer de mama para convencer os médicos canadenses de que talvez, o nosso problema seja mesmo genético e possivelmente, com um resultado positivo, possamos prevenir a doença em outros membros da familia.

Para mim e duas irmãs o aconselhamento genético veio um pouco tarde: somos hoje 3 irmãs que tiveram ou tem cancer de mama. Todas com diagnostico precoce e todas com condições de uma vida saudavel e longa após o cancer, mas pensar que eu poderia ter prevenido e não fazer meus filhos e marido passarem por este momento, me deixa um pouco mau humorada.

De resto, estou bem, tranquila, confiante! Estou me preparando para uma mastectomia bilateral e possivelmente uma quimioterapia.

O cancer nao me assusta, a cirurgia não me assusta, a quimioterapia não me assusta. Pensar em perder o cabelo me faz rir e pensar em colocar silicone na reconstrução me faz pensar que talvez até valha a pena colocar uma prótese maior! Eu conheço os riscos, mas não tenho mais escolha se quero ou não passar por eles, portanto, estou pronta pra lutar: mas quero uma luta feliz, alegre, com muitas risadas: lágrimas não combinam com o meu tom de pele!

O que me incomoda bastante no entanto é a reação das pessoas. Eu sabia, imaginava e deveria estar preparada para estas reações mas não estava! Por incrível que pareça, as pessoas que fogem de mim são as que eu prefiro. Elas me evitam, não dão like nos meus posts do FB (só falei do cancer uma vez lá), não respondem se eu falo com elas, mas eu as entendo e respeito totalmente. Eu sei que se preocupam, que estao sofrendo e que da maneira delas, vao me dar suporte quando eu precisar.

Tem as que choram!!! Elas choram quando vc conta e choram toda vez que te encontram. Eu tenho consolado estas pessoas, abraçando-as e dizendo que tudo vai ficar bem, mas é impossivel não rir da situação!

Tem as que estão se despedindo! Elas estão tristes e lamentam demais a sua morte iminente. Elas ficam sensibilizadas em ver que a ficha ainda não caiu e que possivelmente vc vai morrer sem ter consciencia do cancer que teve.  Quem tem fugido dessas pessoas sou eu, rs

E claro, tem os contadores de historias!!! Historias tristes, de canceres que voltaram, maes que morreram e deixaram filhos pequenos, tratamentos longos e dolorosos, que nunca acabam. Morte certa após o diagnostico. Eu prometi pra mim mesma que ia mandar estas pessoas se fuderem, mas não é o meu estilo! Eu não consigo falar assim com as pessoas, até porque acredito, que elas pensam estar me ajudando.  Com estes contadores de historias, talvez eu adote a tecnica de historias piores. Eu conheço muitas historias horriveis!!! De repente podemos fazer um campeonato.

Mas o que importa mesmo é que estou bem e estou bem porque estou rodeada por pessoas maravilhosas que me apoiam e tentam da melhor maneira de me jogar pra cima. Amigos que não me veem como uma doente e que conseguem conversar comigo de todos os assuntos, incluindo cancer... e o fazem sem choro, sem rodeios, sem constrangimentos.

Eu estou sim com uma doença grave, que precisa ser tratada rapidamente, mas eu ainda sou a Mari, ainda estou viva e ainda estou mantendo minha rotina, apesar de uma cirurgia, essa sim, iminente.

O velorio ainda não começou!


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